Na criação, Deus realizou a
maravilha das maravilhas que é um coração de mãe. E colocou ali um amor
profundo, obstinado, quase irracional. Um amor pronto a todos os sacrifícios,
todas as renúncias, e todas as predileções. Que seria de nós, pobres e débeis
que somos se sobre nossos anos de incapacidade e de miséria não se inclinasse
alguém feito de propósito para nos amar? Se não trouxéssemos no sangue a
certeza de que somos importantes para alguém?... Recorrer à mãe é instinto
vital, é o primeiro grito da criança no berço, a última invocação do ferido em
seu leito de morte...
Deus não quis que a vida
sobrenatural fosse menos humana que a vida natural, mas ao contrário. Nem
desejou que os homens, adotados por Ele no Seu Filho, fossem como órfãos.
E fez Nossa Senhora.
Se Ele é capaz de infundir no
coração das mães comuns autênticas maravilhas de ternura, que há de estocar no
Coração da Mãe por excelência? Realmente, o amor de Maria, a seu Filho e a nós
filhos adotivos, em certa maneira deve se igualar ao Amor do Pai. Serão
excessos, milagres de afeto e doçura, algo misterioso como a Vida da Graça a
que corresponde, e como a Encarnação que é a sua razão de existência.
O mistério único da Encarnação
ostenta a sua universalidade dando aos homens como Mãe – em Maternidade
sobrenatural – a própria Mãe de Deus...
Há um aspecto da Encarnação, - a
Redenção passiva – que não se pode realizar no próprio Jesus, mas que se
realiza em Sua Mãe, e, para a glória do Cristo, deve atuar-se Nela totalmente,
e é o mistério da Imaculada Conceição. Analogamente, há outro mistério da
Caridade de Cristo que não pode se manifestar no Senhor, mas, que deve aparecer
em Sua Mãe e exigir uma total abrangência: é o mistério do amor materno.
Não julguemos que se trata de uma
egoística ternura de mãe, uma afetuosidade que faz sombra ao amor paterno. No
cristianismo, nada há além de Deus e de Cristo: tudo provém daqui e tudo para
aqui se dirige. A bondade que se manifesta em Maria pertence toda a Jesus
Cristo, como a bondade infinita se manifesta em Cristo, toda caridade criada,
que aparece na humanidade de Cristo, é ainda pouco, porque é uma realidade
finita.
De modo análogo, em comparação com
o Amor de Cristo, todo o amor que se manifesta em Nossa Senhora, é ainda pouco,
porque é reflexo da caridade criada de Jesus. Mas este reflexo é tão
maravilhosamente adequado à realidade humana e tão reveladora, que de fato no
plano providencial, é um aspecto do amor de Cristo que os homens enxergam
claramente apenas olhando para Maria Santíssima, - assim como há uma faceta do
amor de Deus que os homens veem claramente só olhando para o Homem-Deus, Jesus
Cristo.
Mas, se contemplarmos bem Nossa
Senhora, em definitivo veremos somente Jesus Cristo e somente Deus. “Quem vos
ouve, a Mim ouve” (Luc 10, 16).
Maria, assim como a Igreja, apenas conduz,
mais diretamente e com segurança, a Deus, o Dom de nosso coração.
Fonte: Livro – Consagração a Nossa
Senhora de Dom Antônio Maria A. de Siqueira;
E. Morsch, La théologie Du Corpus Mystique,
I pág.201
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