Do pecador só exige a benigníssima Rainha que se recomende a ela e tenha o
propósito de emendar-se. Em o vendo a seus pés a implorar-lhe perdão, não olha
para o peso de seus pecados, mas para a intenção com que se apresenta. Se esta
é boa, nem que o pobre haja cometido todos os pecados do mundo, abraça-o e como
terna Mãe não desdenha curar-lhe as chagas que na alma traz. Pois é Mãe de
misericórdia, não só de nome, senão de fato, e em verdade tal se mostra pela
ternura e pelo amor com que nos socorre. A própria Virgem SSma. Assim o revelou
a Sta. Brígida. “Por mais culpado que seja um homem, disse-lhe, se vem a mim
com sincero arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo. Não considero a
enormidade de suas faltas, mas tão somente as disposições do seu coração. Não
recuso ungir e curar as suas feridas, porque me chamo e realmente sou Mãe de
misericórdia”.
É Maria a Mãe dos
pecadores que se querem converter. Como tal não pode deixar de compadecer-se
deles. Parece até que sente como próprios os males de seus pobres filhos. A
cananéia, ao pedir que o Senhor lhe livrasse a filha demônio que a atormentava,
disse-lhe: Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim; minha filha está muito
atormentada do demônio (Mt 15, 22). Mas se a filhs, e não a mãe, era
atormentada do demônio, parece que havia de dizer: Senhor, tem piedade de minha
filha! Porém, não; ela disse: tem compaixão de mim e com muita razão. Pois sentem as mães como próprios os
sofrimentos dos filhos. Ora, do mesmo modo, disse Ricardo de S. Lourenço, pede
Maria a Deus, quando intercede por qualquer pecador que a ela recorre. Pede-lhe
que dela se compadeça. Meu Senhor – parece dizer-lhe – esta pobre alma, que
está em pecado, é minha alma; por isso compadecei-vos não tanto dela, como de
mim, que sou sua mãe.
Oh! Prouvesse a Deus
que todos os pecadores recorressem a esta doce Mãe, por que todos certamente
receberiam do Senhor o perdão! – Ó Maria, exclama admirado Conrado de Saxônia,
tu acolhes maternalmente o pecador desprezado por todo o mundo, nem o abandonas
antes que o hajas reconciliado com o juiz. Quer ele dizer: Enquanto o pecador
perseverar no seu pecado, é aborrecido e desprezado de todos; até as criaturas
insensíveis, o fogo, o ar, a terra, quereriam castigá-lo em desafronta à honra
do seu Criador ultrajado. Porém, se este pecador miserável recorrer a Maria,
expulsa-o Maria? Não, se vem com intenção de que o ajude, a fim de emendar-se,
ela o acolhe com aternal afeto. Não o deixa, sem primeiro, com a sua poderosa
intercessão, reconciliá-lo com Deus e o reconduzir à sua graça.
No segundo Livro dos
Reis (14, 5) lemos o que se deu com a sábia mulher de Técua. Disse ela a Davi:
“Senhor, tinha tua serva dois filhos; para minha desventura um matou o outro; e
assim perdi um filho. Quer agora a justiça tirar-me o outro, que é o único que
me fica. Tem compaixão desta pobre mãe e não permitas que eu perca os
filhos”. Então Davi, compadecendo-se da
mãe, libertou o delinqüete e lho entregou – O mesmo parece que diz Maria, quando
vê a Deus irado com algum pecador que a ela recorre. “Meu Deus, lhe diz, eu
tinha dois filhos, Jesus e o homem: o homem matou na cruz ao meu Jesus; agora a
vossa justiça quer condenar o homem. Senhor, já morreu o meu Jesus; tende
compaixão de mim. Se eu perdi um, não me façais perder também o outro filho”.
Certamente Deus não condena os pecadores que recorrem a Maria e por quem ela
intercede. Pois o próprio Deus recomendou os pecadores por filhos de Maria. O
devoto Lanspérgio põe as seguintes palavras nos lábios do Senhor: “Eu
recomendei a Maria de aceitar por filhos os pecadores. Por isso ela é toda
desvelos para que, no desempenho de sua missão, não lhe aconteça perder a
nenhum dos que lhe foram entregues, principalmente quando a invocam. E assim
esforça-se o quanto pode em conduzir todos eles a mim”. Quem pode explicar,
interroga Blósio, a bondade e misericórdia, a fidelidade e a caridade com que
esta nossa Mãe procura salvar-nos, quando lhe pedimos que nos ajude? Prostremo-nos,
pois, diz S. Bernardo, diante desta boa Mãe; abracemo-nos a seus sagrados pés e
não a deixemos sem nos abençoar e sem nos receber por filhos seus. Nela esperarei,
exclama S. Boaventura, ainda que me dê a morte; e cheio de confiança desejo
morrer perante uma de suas imagens, e salvo estarei. Portanto, assim devem
dizer todos os pecadores, que recorrem a esta piedosa Mãe: Minha Senhora e
minha Mãe, por minhas culpas mereço ser repelido, e castigado por vós na
proporção delas. Mas, ainda que me rejeiteis e me tireis a vida, não perderei
nunca a confiança. E se tiver a felicidade de morrer na presença de qualquer
imagem vossa, recomendando-me à vossa misericórdia, espero certamente que não
me hei de perder, mas hei de louvar-vos no céu em companhia de tantos que vos
serviram e morreram invocando vossa poderosa intercessão.
ORAÇÃO
(Nicolau,
monge)
Santíssima Virgem,
Mãe de Deus, socorrei os que imploram vossa assistência; olhai para nós.
Poderieis esquecer os homens, agora que estais tão unida a Deus? Ah! certamente
não, bem sabeis em que perigos nos deixastes, e qual, o estado miserável de
vossos servos; nãoe bem que uma misericórdia tão grande como a vossa se esqueça
de uma miséria tão grande como a nossa. Valei-nos com vosso poder, já que
Aquele que tudo pode vos deu a onipotência no céu e na terra. Nada vos é
impossível, pois até conseguis despertar a esperança da salvação. Quanto mais
poderosa sois, tanto mais misericordiosa deveis ser.
Valei-nos também por
amor. Sei, Senhora minha, que sois muito benigna e nos amais com um amor que
nenhum amor pode exceder. Quantas vezes aplacais a ira do nosso Juiz no momento
em que ele nos vai castigar! Em vossas mãos estão todos os tesouros da
misericórdia de Deus. Ah! não suceda jamais que nos deixeis de cumular de
benefícios! Só buscais ocasião de salvar a todos os miseráveis e de derramar
sobre eles vossa misericórdia, porque vossa glória aumenta quando por vossa
intercessão os penitentes são perdoados, e desse modo alcançam o paraíso.
Valei-nos, pois, para que consigamos gozar de vossa vista no céu. Pois a maior
glória que possamos ter, depois de ver a Deus, é ver-vos, amar-vos e viver sob
vosso patrocínio. Ah! ouví nossas súplicas, já que vosso Filho quer honrar-vos,
nada vos negando do que lhe pedis.
Fonte: Um mês com Nossa Senhora; Mons. Ascânio
Brandão, Edições Paulinas, 3ª edição, São Paulo, SP , 1954.
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