Pela sua expulsão do Céu, Lúcifer e os outros Anjos precitos foram transmudados respectivamente em diabo e demônios. Todavia o nome que melhor qualifica a rebelião, é Satanás, que significa adversário. Com efeito ele tornou-se inimigo declarado de Deus autor de todo mal, pai da mentira, antítese e negação da Verdade e do Bem; numa palavra, o grande perturbador da ordem Divina. Degradado da dignidade de primeiro Anjo, banido para sempre e sem remédio, o furor e a raiva devoram-no, ao mesmo tempo que a inveja aumenta os tormentos da sua nova e triste sorte. Inveja... mas de quem ou do que?
Afora os Anjos, outra criatura receberá o ser. Constituída por alma e corpo, era a síntese e a expressão de dois mundos: o do espírito e o da matéria; era um mundo em miniatura - um microcosmo. Essa criatura era o homem.Como os Anjos, também o homem era a imagem natural de Deus pelas faculdades espirituais da inteligência e da vontade; também ele o fruto desse amor Divino, corresponde a um desígnio de concepção eterna. Pelo mesmo excesso de bondade Divina fora igualmente elevado, mediante a graça, da ordem natural à ordem sobrenatural e adotado por filho. Em virtude dos dons especiais, com que fora enriquecido, estava outrossim isento da morte, da dor e de quaisquer sofrimentos, angústias e acidentes da vida. Como consequência de tais dons, não existia desarmonia entre o espírito e a carne. Os dois elementos fundiam-se, no homem, em perfeita harmonia: nenhum sobrelevava o outro e as exigências da carne mantinham-se em plena sujeição ao espiritual.
Tanto a natureza vegetal como a animal estavam submissas ao homem, colocado no vértice da criação: era o rei, o dono do mundo; para ele é que Deus o criara: belo, rico,magnífico, tal como lho inspirara o amor e a solicitude paternais e o exigia a alta dignidade do folho que o iria desfrutar, com alegria nos olhos e no coração.
Neste mundo de magnificência Divina patenteava-se visivelmente perante o homem, cuja a natureza terrena podia assim antever o Criador e, a uníssono com as multidões celestes, soltar o hino espontâneo de louvor e reconhecimento: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos; cheios estão os Céus e a Terra da Vossa glória. Hosana nas alturas!"
É convicção minha que o primeiro homem realizava o sonho do poeta crente que vibra e se comove ante as maravilhas da criação, mas que chora a queda, origem de todas as preocupações e angústias da vida. Que feliz não era o estado de Adão! Inocente, transfigurado pela graça, podia entreter-se com os Santos Anjos, travar com eles colóquios cordiais e inefáveis, ouvir as harmonias do Paraíso, embriagar-se com a beleza que nele ia descortinando. Talvez que o próprio Deus se dignasse ambular nesse jardim e lhe dirigisse a fala, chamando-lhe docemente filho!
Quem poderá descrever as belezas e maravilhas do paraíso de Adão!...Depois não era só ele a usufruí-las; Deus havia lhe dado uma companheira: Eva. Com ela o homem deveria guardar e cultivar esse lugar de delícias; mais ainda, tinha a incumbência de o alargar, povoando-o e dominando a terra e suas energias: "Povoai a terra e dominai-a". Deveriam levar ao seu pleno desenvolvimento essa natureza saída, como em esboço, das mãos do Criador", tornando-se assim prestimosos cooperadores seus mediante um trabalho que, longe de os enfraquecer e os cansar, lhes aumentaria a alegria de viver.
Deste primeiro casal proviria uma civilização,uma grande sociedade, réplica da ordem celeste na qual a caridade seria a lei suprema. Por fim despontaria o grande dia, tão suspirado e por Deus prometido, em que a humanidade seria assunta à glória e a bem aventurança de Celeste Paraíso
Tais eram as fascinantes e grandiosas perspetivas que o Senhor abriria ante os olhos de Adão e Eva.
Entretanto, e como os Anjos anteriormente, eles tinham de merecer, era preciso que dessem provas de fidelidade, de submissão, de obediência e de amor ao seu Benfeitor e Amo.
continua...
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