1 de abril de 2012

A morte de Cristo, vida do Cristão

"Esta semana, que o povo cristão tradicionalmente chama Santa oferece-nos uma vez mais a ocasião de considerarmos _ de revivermos _ os momentos em que se consuma a vida de Jesus. Tudo o que as mais diversas manifestações de piedade nos trazem à memória, nestes dias orienta-se certamente para a Ressurreição, que é o fundamento da nossa fé, como escreve São Paulo. Mas não devemos percorrer com excessiva pressa esse caminho; não devemos deixar cair no esquecimento uma coisa muito simples, que talvez nos escape de vez em quando: é que não poderemos participar da Ressurreição do Senhor se não nos unirmos à Sua Paixão e Sua Morte. Para acompanharmos Cristo na Sua glória, no fim da Semana Santa, é preciso penetrar antes no Seu holocausto e nos sintamos uma só coisa com Ele, morto no Calvário.
    A entrega generosa de Cristo defronta-se com o pecado, essa realidade dura de aceitar, mas inegável: o mistério da iniquidade, a inexplicável maldade da criatura que se levanta, por soberba, contra Deus. A história é tão antiga quanto a humanidade. Recordemos a queda dos nossos primeiros pais; depois toda essa cadeia de depravações que banalizam a marcha dos homens e, finalmente, as nossas rebeldias pessoais. Não é fácil considerar a perversão que o pecado implica e compreender tudo o que a fé nos diz. Devemos tomar consciência de que mesmo no plano humano, a magnitude da ofensa se mede pela condição do ofendido, pelo seu valor pessoal, pela sua dignidade social, pelas suas qualidades. E o homem ofende a Deus: a criatura renega o seu Criador.
    Mas Deus é amor. O abismo de malícia que o pecado encerra foi transposto por uma caridade infinita. Deus não abandona os homens. Os desígnios divinos previram que, para reparar as nossas faltas, para restabelecer a unidade perdida, não eram suficientes os sacrifícios da Antiga Lei; fazia-se necessária a entrega de um Homem que fosse Deus.
     Podemos imaginar - para de algum modo aproximarmos desse mistério insondável - que a Trindade Beatíssima se reúne em conselho, em Sua relação íntima de amor imenso, e, como resultado dessa decisão eterna, o Filho unigênito de Deus Pai assume a nossa condiçaõ humana, carrega sobre Si as nossas misérias e as nossas dores, para acabar cravado com pregos num madeiro.
     Este fogo, esse desejo de cumprir o decreto Salvador de Deus Pai, atravesse toda avida de Cristo, desde o Seu próprio nascimento em Belém. ao longo de três anos que conviveram com Ele, os discípulos ouvem-no repetir incansavelmente que Seu alimento é fazer a Vontade Daquele que O enviou. Até que indo a meio a tarde da primeira Sexta-Feira Santa, se conclui a Sua imolação... Jesus assumindo todas as culpas dos homens sob o peso da Cruz, morre pela força e vileza de nossos pecados.
    Devemos meditar no Senhor ferido dos pés à cabeça por nosso amor. Com uma frase que se aproxima da realidade, embora não cabe de exprimir tudo, podemos repetir com escritor de há séculos: 'O corpo de Jesus é retábulo de dores'. À vista de Cristo transformado num farrapo, convertido num corpo inerte descido da Cruz e confiado a Sua Mãe; à vista Desse despedaçado, poderia concluir-se que essa cena é a manifestação mais clara de uma derrota. Onde estão as multidões que O seguiam? E o Reino cujo o advento anunciava? No entanto, não há derrota, mas vitória. Agora Cristo acha-se mais perto do que nunca do momento da Ressurreição, da manifestação da glória que conquistou com Sua obediência."

Fonte: "É Cristo que passa " de São Josémaria Escrivá


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