28 de dezembro de 2011

Descobrir o Coração de Cristo

Condição da descoberta do amor de Cristo:
 A transformação interior produzida pelo Pai
 
  O conhecimento do amor de Cristo não resulta simplesmente de esforço humano que se aplicasse a estudar   o que é Cristo. Nem sequer consiste unicamente num esforço de conhecimento guiado e inspirado pela Graça. Provém de uma transformação interior produzida pelo Pai na pessoa.
  Notemos em primeiro lugar que a iniciativa cabe ao Pai: é o Pai quem fez conhecer o Filho. Foi Ele quem mandou Seu Filho ao mundo para Nele revelar Deus e é ele quem, pelo Espírito Santo suscita a compreensão dessa revelação. Nós nos recordamos de que Jesus, depois de ter pedido aos seus apóstolos uma profissão de fé que lhes fosse pessoal e depois de ter recebido a declaração de Simão: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", logo reagiu afirmando que nesta declaração, não havia uma descoberta devida à inteligencia humana, mas uma revelação que provinha do Pai Celeste(Mt 16,16-17). Todos os indícios da própria identidade fornecidos por Jesus, por meio de Suas palavras e obras, não teriam bastado para provocar no discípulo a sua proclamação em nome dos doze, que se tornaria a proclamação da fé da Igreja.  Somente o Pai podia, graças a luz que derramava, fazer despontar na mente dos homens a verdade concernente ao Seu Filho Foi Ele quem tornou Pedro capaz de ver Jesus tal como Ele mesmo o via, e de exprimir o mistério de Sua pessoa.
  Assim se fortalece o" homem interior" . Abandonado a si mesmo, o homem correria o risco de se deixar absorver por tudo que o rodeia, e de viver como alguém voltado para o exterior, haurindo deste exterior o seu pensamento e a inspiração de sua vida. Ele corre o perigo de ter uma existência superficial, perdendo a própria capacidade de entrar em si mesmo, de refletir de voltar-se para a realidade invisível. Torna-se escravo dos próprios sentimentos e das reações instintivas. O que ele ouve ou vê o aparta de si mesmo. Como é que este homem, absorvido pelas realidades visíveis imediatas, poderia interessar-se por Cristo e desejar descobrir-lhe o coração?
  Poder-se-ia dizer, conforme o modo de falar de  São Paulo, que em cada pessoa humana há um homem interior  e um homem exterior. Caso se desenvolva unicamente o homem exterior, este sufoca o homem interior, e confisca todas as energias do indivíduo a serviço de pensamentos e ações superficiais. Ora, para o desenvolvimento do homem exterior é só deixar correr o barco, deixar-se apanhar pelas múltiplas solicitações do mundo derretor. Pelo contrário, para o desenvolvimento do homem interior, é mister esforço: trata-se de preservar em si mesmo, contra a obsessão das coisas visíveis, a capacidade de reflexão, de meditação, de contato com o invisível. Importa resistir ao atrativo das facilidades e a tantas seduções que se comprovam ilusórias ao pouco enriquecedoras. Também o homem interior medra em virtude de um atrativo e de uma sedução, graças à presença íntima de Deus, que atrai e seduz. Mas este atrativo e esta sedução são menos not´rios, sentem-se menos imediatamente.
   O desenvolvimento do homem interior opora-se graças à ação do Pai, pelo Espírito Santo, cria na pessoa humana uma capacidade de procurar e encontrar a Deus. O Espírito vem "armar" o homem interior, dar-lhe o meio de dominar todas as tentações do mundo exterior, de fazê-lo triunfar das solicitações ávidas por levá-lo a esquecer o ele  é e deve ser.
   Ao fortificar o homem interior, gera nele o desejo de conhecer a Cristo e de não contentar, neste conhecimento, com uma aproximação superficial, que se limitasse a pôr em evidência o "Cristo exterior" , a sua vida tal como apareceu aos contemporâneos. O Espírito dá ao homem a aptidão para descobrir, sobretudo, o "Cristo interior", as disposições profundas, os pesamentos mais íntimos, os sentimentos e intenções de Cristo Quanto mais se robustesse nos cristãos o homem interior, mais eles aspiram a descobrí-lo nos textos evangélicos e na própria existência.
   Para além do pensamento de São Paulo, que nesse texto não alude expressamente à Eucaristia, pode-se observar que o fortalecimento do homem interior é fruto do alimento eucarístico. Este provém do Pai pelo Espírito, pois o pão Eucarístico é dado pel o Pai e deve a sua eficácia pelo Espírito de que está repleto. Destarte, a própria Eucaristia, tornando o homem mais interior, mais apto a descobrir o Coração Eucarístico do Senhor.

(O Coração Eucarístico- Jean Galot,S.J.)







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