
ESTEJAM SEMPRE ATENTOS! Vivemos um cristianismo
adormecido em uma arcaica cultura da fé. Manifesta-se mediante costumes e
hábitos que mais que fé é o reflexo cultural da fé. O imprescindível o cristocentrismo
foi rebaixado a devoções populares que no santoral e nas práticas interessadas
gozam de um predomínio. Na mentalidade corrente do povo, e isto é muito grave,
Cristo não é, como deveria ser, o Mediador sempre em ato. Sören Kierkegaard
disse atrevidamente: “A cristandade acabou com o cristianismo, sem cair na
conta disso. Em conseqüência, se quer fazer algo terá que reinserir o
cristianismo na cristandade”. Um botão de amostra: o Papa acaba de escrever que
no portal do Presépio não havia nem asno nem boi. A notícia suscitou um
alvoroço espetacular. Os meios de comunicação fizeram comentários fora de lugar.
Neles, muitos afirmaram que estão tirando a fé. Outros asseguraram indignados
que seguirão pondo a estes simpáticos animais em seus presépios. Não faltou
quem acolheu a notícia com desdém irônico. Este fato reflete muitas coisas. O
que é verdadeiramente fundamental e estrutural da fé? A pessoa de Cristo, sua
mensagem e mistérios ocupam o centro da fé e das celebrações na vivência prática
da liturgia, nas quais até os meninos e o povo mais singelo podem ver em
primeiro plano de forma explícita e gozosa ao mesmo Cristo, sua mensagem e sua
obra redentora?
Jesus
nos diz no evangelho que despertemos do sono. É evidente que estamos
adormecidos, sedimentados consciente ou inconscientemente em um passado
histórico empobrecido que diluiu, quando não perdido, o original. Estamos hoje
impressionados pela injustiça social. Cristo mesmo foi também despejado e
marginalizado de nós, de sua casa. E até já esquecemos esta expulsão! Nossa
autonomia nos parece normal. Mas o Advento significa ir ao encontro daquele que
nos ama e que vem a nos buscar.
TEMPO DE ESPERANÇA: As leituras da palavra
de Deus nos situam em um estado de busca e esperança. A primeira, do livro de Jeremias,
constitui um oráculo de salvação. Jeremias profetiza que, depois da queda de
Jerusalém e do exílio de Babilônia, Deus, do tronco ressecado da dinastia de
Davi, fará brotar um descendente, um soberano que fará germinar a esperança e a
salvação. São Pablo em sua carta aos Tessalonicenses, o primeiro escrito do
cristianismo (ano 50 D.C.), fala do Senhor que instaurará os céus novos e a
terra nova, pelo qual devemos nos preparar a sua vinda “transbordando de amor
mútuo e de amor a todos”. Jesus, no evangelho, em uma visão apocalíptica, une o
fim de Jerusalém e o fim do mundo e nos exorta à vigilância e à oração. Diz-nos
que o fim está já no agora. Pelo qual, devemos estar acordados e vigilantes.
ENSINA-ME TEUS CAMINHOS!
Cristo
está vindo hoje a cada um de nós na luz do evangelho e dando-nos a vida na Eucaristia.
O evangelho revela o que a Eucaristia contém. O pão oculta o que a palavra
proclama. Evangelho e Eucaristia constituem hoje a presença real e a revelação
luminosa de Jesus para nós. O grande drama do mundo cristão é a ignorância, o
formalismo e o costume já tão envelhecido que perdeu o original. Isto
representa um detrimento profundo para a fé. É um dos fatos mais lamentáveis da
história da Igreja. Este drama tem como fundamento a ignorância e até ás vezes
o desprezo do concílio Vaticano II, não só por parte do povo, mas também de não
poucos guardiões da fé. Este concílio é o ato mais importante que a Igreja de
todos os tempos celebrou em função da formação do povo cristão. Dois mil e
quinhentos bispos de todo o mundo, durante quatro anos, refletiram no mais alto
procedimento do magistério formal, sobre como tem que ser a fé de um cristão
comprometido no mundo atual. Papas, bispos e pensadores o qualificaram como
graça e inspiração do Espírito. Não só falou das realidades explícitas da fé,
mas também, e isto é o original, de como tem que ser o modo de presença dos
cristãos no mundo de hoje.
Junto
aos bispos de todo o mundo colaboraram os melhores teólogos, pastores e catequistas
da Igreja universal em uma valiosa colaboração como jamais existiu. Ante este
evento excepcional, a maioria do povo vive ainda sem ter-se informado. O
silêncio de muitos responsáveis e as ações daqueles que desvirtuaram os
ensinamentos do Concilio movidos por interesses estranhos, representaram um
lamentável bloqueio à vontade de Deus e constitui uma grave omissão. O Concílio
Vaticano II é o melhor instrumento de atualização da fé, e representa uma
oportunidade singular para quantos queiram vivê-la com autenticidade. Vincula a
todos, especialmente aos responsáveis pela pastoral, com uma força moral de
máxima exigência. Não oferecê-lo, não estudá-lo, constitui uma omissão gravíssima.
É desprezo ao Espírito Santo e pode chegar a ser um impedimento, um verdadeiro
bloqueio, para que muitos tenham a oportunidade de renovar sua fé. No ano da fé, nenhuma oportunidade pode ser
tão valiosa como deixar-se iluminar por este Magistério Extraordinário. Diz o
salmo 24 na eucaristia de hoje: “Ensina-me teus caminhos, me instrua em teus
caminhos, faz que caminhe com lealdade, ensina-me porque tu és meu Deus e
Salvador”. Uma leitura atenta do concílio pode contribuir a fortalecer o mais
valioso do homem: sua fé pessoal e comunitária, como adesão gozosa e alegre ao
Jesus Cristo, o Senhor.
Pe. Rafael
Vizcaino, LC
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