9 de agosto de 2010

Novela: Prisão sem grades

Nosso querido e saudoso padre Leo foi um grande delator sobre o perigo das novelas para a vida dos brasileiros.

Eu mesma escutei-o muitas vezes falar sobre isto. Escutava-o e questionava- me, pois era uma “noveleira”. Não foram poucas as vezes que pude escutá-lo e a cada vez que o escutava, mais sentia-me constrangida até que conclui: padre Leo tem razão.

Isto aconteceu há uns 9 anos atrás. A partir desta época iniciei minha batalha pessoal, pois não conseguia deixar de assistir a novela, quando não as novelas. Para mim era um vício, não perdia nenhum capítulo. Era uma prisão, não saia de casa no horário da novela, não assumia nenhum compromisso naquele horário e ai de alguma visita que viesse em minha casa bem naquela hora.

Iniciei meu “PHN”: - Por hoje não assisto este capítulo desta novela. Confesso que foi um grande sufoco, pois estava indo contra meu desejo. Não é fácil vencer algo prazeroso, apesar de prejudicial. Com a graça de Jesus Cristo, a cada dia fui vencendo este vício.

Descobri duas coisas importantes para mim. Primeiro a existência de um grande vazio interior e segundo uma “formula” definitiva para vencer o “vicio”: - não assistir o primeiro capítulo de cada novela, dava-me força para não assistir os outros restantes. Assim a cada novela que começava era uma nova batalha a ser travada.
Hoje depois de todos estes anos sem ver nenhuma novela, testemunho as muitas graças que Deus me deu, em decorrência desta prática. Como dizia São Francisco de Sales “no começo muitas amarguras encontram as pessoas nos exercícios de mortificação e penitência, mas com o tempo e a prática, essas amarguras se vão mudando em suavidades e delícias”...

Na Obra dos Santos Anjos aprendemos que Deus nos fala, através de seus santos anjos, em nossa consciência. É no silêncio a que escutamos a voz de seus servos especiais.

Como perceber a “voz silenciosa” do Santo Anjo? Como ouvir a Voz de Jesus Cristo que comungamos, ao menos nos domingos (pois dirijo este artigo especialmente aos católicos praticantes) e no restante da semana não escutou outra coisa senão os valores do “anti” evangelho impregnados em cada capítulo de novela? Não vão me dizer, que traição, ódio, intriga, promiscuidade, liberação sexual, trapaças, mentiras, roubos, assassinatos, enganos, são valores do evangelho de Jesus Cristo.

Mas porque deste testemunho? Para mostrar ao leitor, que esteja habituado em ver novelas, que já experimentei deste veneno e sei o quanto a novela pode aprisionar.

Uma prisão invisível, pois o “noveleiro” não percebe o quanto está aprisionado. Não existem grades, nem carrascos que o maltrate, ao contrário, existe até um prazer, um deleite diante da telinha. O mal está naquilo que Viktor Frankl (fundador da 3ª escola Vienense de psicoterapia, a Logoterapia) escreveu “... O homem quando absorvido pela massa perde sua responsabilidade. Fugir para a massa é fugir da responsabilidade individual. Sempre que alguém atua como se apenas fosse a parte de um todo, tomando por propriedade sua este todo tão somente, decerto pode ter a sensação de se libertar do fardo da responsabilidade. Esta tendência de fugir da responsabilidade é a tendência de todos os coletivismos”.... A novela é um dos muitos meios atuais, massificadores de nossa individualidade.

De acordo com a antropologia “Frankliana” no homem existem forças antagônicas, que tentam impedi-lo de arcar com a sua responsabilidade essencial. Na responsabilidade há qualquer coisa de abismo. E quanto mais e com mais profundidade pensamos nela, mais descobrimos o abismo, até que, finalmente, nos envolve uma espécie de vertigem. Basta mergulharmos a fundo na essência da responsabilidade humana para, logo sentirmos um estremecimento: há nela qualquer coisa de temível, se bem que haja nela também qualquer coisa de sublime!

Temível é: saber que a cada momento arco com a responsabilidade pelo momento seguinte; que todas as decisões, as de menor e as de maior monta, são decisões “para toda a eternidade”; que em cada momento realizo ou desperdiço uma possibilidade, a possibilidade deste momento precioso e único. Cada momento encerra milhares de possibilidades, mas eu só posso escolher uma delas para realizá-las, condenado todas as outras simultaneamente ao não-ser, e isto também “para toda a eternidade”!

Sublime é saber que o futuro, tanto o meu próprio futuro como o das coisas e o dos homens que me rodeiam, em certa medida, por pequena que seja, depende da decisão tomada a cada instante. O que eu realizar com essa decisão, o que com ela “criar no mundo” é qualquer coisa que pondo a salvo na realidade, preserva-o da caducidade.

Que necessidade é essa de nos subtrairmos de nós mesmos, evitando as respostas que devemos dar a cada dia, o silêncio fecundo diante de Deus, ou a companhia de nossos familiares, desperdiçando tempo livre que poderia ser utilizado na construção de um legado, único, almejado pelo mundo ou pelas pessoas próximas.

Quanto tempo perdido, jogado fora, vendo novelas. Tempo que não volta tempo que poderia ser gasto em coisas que valessem à pena.
Luciana Aparecida Vieira Ferreira
Psicóloga, Logoterapeuta
CRP – 04-18253
Referências Bibliográficas:
- Frankl, Viktor Emil. Psicoterapia e Sentido da Vida, editora quadrante, São Paulo, 4ª edição, 2003.
- Sales, são Francisco. Filotéia – ou introdução a vida Devota. Editora Vozes, Petrópolis, 18ª edição, 2009.
- Confraria dos Santos anjos da Guarda – O nosso anjo da guarda, uma pequena introdução a devoção aos santos anjos. Anápolis, 8ª edição, 2008.

Nenhum comentário: