5 de maio de 2015

MARIA AMA E SALVA OS PECADORES


Do pecador só exige a benigníssima Rainha que se recomende a ela e tenha o propósito de emendar-se. Em o vendo a seus pés a implorar-lhe perdão, não olha para o peso de seus pecados, mas para a intenção com que se apresenta. Se esta é boa, nem que o pobre haja cometido todos os pecados do mundo, abraça-o e como terna Mãe não desdenha curar-lhe as chagas que na alma traz. Pois é Mãe de misericórdia, não só de nome, senão de fato, e em verdade tal se mostra pela ternura e pelo amor com que nos socorre. A própria Virgem SSma. Assim o revelou a Sta. Brígida. “Por mais culpado que seja um homem, disse-lhe, se vem a mim com sincero arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo. Não considero a enormidade de suas faltas, mas tão somente as disposições do seu coração. Não recuso ungir e curar as suas feridas, porque me chamo e realmente sou Mãe de misericórdia”.
É Maria a Mãe dos pecadores que se querem converter. Como tal não pode deixar de compadecer-se deles. Parece até que sente como próprios os males de seus pobres filhos. A cananéia, ao pedir que o Senhor lhe livrasse a filha demônio que a atormentava, disse-lhe: Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim; minha filha está muito atormentada do demônio (Mt 15, 22). Mas se a filhs, e não a mãe, era atormentada do demônio, parece que havia de dizer: Senhor, tem piedade de minha filha! Porém, não; ela disse: tem compaixão de mim e com muita razão. Pois sentem as mães como próprios os sofrimentos dos filhos. Ora, do mesmo modo, disse Ricardo de S. Lourenço, pede Maria a Deus, quando intercede por qualquer pecador que a ela recorre. Pede-lhe que dela se compadeça. Meu Senhor – parece dizer-lhe – esta pobre alma, que está em pecado, é minha alma; por isso compadecei-vos não tanto dela, como de mim, que sou sua mãe.
Oh! Prouvesse a Deus que todos os pecadores recorressem a esta doce Mãe, por que todos certamente receberiam do Senhor o perdão! – Ó Maria, exclama admirado Conrado de Saxônia, tu acolhes maternalmente o pecador desprezado por todo o mundo, nem o abandonas antes que o hajas reconciliado com o juiz. Quer ele dizer: Enquanto o pecador perseverar no seu pecado, é aborrecido e desprezado de todos; até as criaturas insensíveis, o fogo, o ar, a terra, quereriam castigá-lo em desafronta à honra do seu Criador ultrajado. Porém, se este pecador miserável recorrer a Maria, expulsa-o Maria? Não, se vem com intenção de que o ajude, a fim de emendar-se, ela o acolhe com aternal afeto. Não o deixa, sem primeiro, com a sua poderosa intercessão, reconciliá-lo com Deus e o reconduzir à sua graça.
No segundo Livro dos Reis (14, 5) lemos o que se deu com a sábia mulher de Técua. Disse ela a Davi: “Senhor, tinha tua serva dois filhos; para minha desventura um matou o outro; e assim perdi um filho. Quer agora a justiça tirar-me o outro, que é o único que me fica. Tem compaixão desta pobre mãe e não permitas que eu perca os filhos”.  Então Davi, compadecendo-se da mãe, libertou o delinqüete e lho entregou – O mesmo parece que diz Maria, quando vê a Deus irado com algum pecador que a ela recorre. “Meu Deus, lhe diz, eu tinha dois filhos, Jesus e o homem: o homem matou na cruz ao meu Jesus; agora a vossa justiça quer condenar o homem. Senhor, já morreu o meu Jesus; tende compaixão de mim. Se eu perdi um, não me façais perder também o outro filho”. Certamente Deus não condena os pecadores que recorrem a Maria e por quem ela intercede. Pois o próprio Deus recomendou os pecadores por filhos de Maria. O devoto Lanspérgio põe as seguintes palavras nos lábios do Senhor: “Eu recomendei a Maria de aceitar por filhos os pecadores. Por isso ela é toda desvelos para que, no desempenho de sua missão, não lhe aconteça perder a nenhum dos que lhe foram entregues, principalmente quando a invocam. E assim esforça-se o quanto pode em conduzir todos eles a mim”. Quem pode explicar, interroga Blósio, a bondade e misericórdia, a fidelidade e a caridade com que esta nossa Mãe procura salvar-nos, quando lhe pedimos que nos ajude? Prostremo-nos, pois, diz S. Bernardo, diante desta boa Mãe; abracemo-nos a seus sagrados pés e não a deixemos sem nos abençoar e sem nos receber por filhos seus. Nela esperarei, exclama S. Boaventura, ainda que me dê a morte; e cheio de confiança desejo morrer perante uma de suas imagens, e salvo estarei. Portanto, assim devem dizer todos os pecadores, que recorrem a esta piedosa Mãe: Minha Senhora e minha Mãe, por minhas culpas mereço ser repelido, e castigado por vós na proporção delas. Mas, ainda que me rejeiteis e me tireis a vida, não perderei nunca a confiança. E se tiver a felicidade de morrer na presença de qualquer imagem vossa, recomendando-me à vossa misericórdia, espero certamente que não me hei de perder, mas hei de louvar-vos no céu em companhia de tantos que vos serviram e morreram invocando vossa poderosa intercessão.

ORAÇÃO
(Nicolau, monge)
Santíssima Virgem, Mãe de Deus, socorrei os que imploram vossa assistência; olhai para nós. Poderieis esquecer os homens, agora que estais tão unida a Deus? Ah! certamente não, bem sabeis em que perigos nos deixastes, e qual, o estado miserável de vossos servos; nãoe bem que uma misericórdia tão grande como a vossa se esqueça de uma miséria tão grande como a nossa. Valei-nos com vosso poder, já que Aquele que tudo pode vos deu a onipotência no céu e na terra. Nada vos é impossível, pois até conseguis despertar a esperança da salvação. Quanto mais poderosa sois, tanto mais misericordiosa deveis ser.
Valei-nos também por amor. Sei, Senhora minha, que sois muito benigna e nos amais com um amor que nenhum amor pode exceder. Quantas vezes aplacais a ira do nosso Juiz no momento em que ele nos vai castigar! Em vossas mãos estão todos os tesouros da misericórdia de Deus. Ah! não suceda jamais que nos deixeis de cumular de benefícios! Só buscais ocasião de salvar a todos os miseráveis e de derramar sobre eles vossa misericórdia, porque vossa glória aumenta quando por vossa intercessão os penitentes são perdoados, e desse modo alcançam o paraíso. Valei-nos, pois, para que consigamos gozar de vossa vista no céu. Pois a maior glória que possamos ter, depois de ver a Deus, é ver-vos, amar-vos e viver sob vosso patrocínio. Ah! ouví nossas súplicas, já que vosso Filho quer honrar-vos, nada vos negando do que lhe pedis.


Fonte: Um mês com Nossa Senhora; Mons. Ascânio Brandão, Edições Paulinas, 3ª edição, São Paulo, SP , 1954.



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