22 de abril de 2012

Eucaristia: Fonte de Misericórdia



A Eucaristia é o mistério da pobreza. Não somente Ele se mostra numa extrema pobreza, mas veio do céu em auxílio à nossa pobreza.
Naquele momento, Ele atendia à pobreza da Igreja abatida por uma heresia. A Igreja estava doente, totalmente enfraquecida e necessitada. Quando uma heresia acontece, a força do inferno é que vem para ferir a Igreja e tentar solapar os seus fundamentos. Mas o próprio Jesus afirmou: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Ainda hoje, o Céu continua a vir em auxílio da nossa pobreza, todos os dias em que Jesus se dá a nós na Eucaristia.
Necessitamos da Eucaristia a cada dia, por causa das nossas dúvidas, da fraqueza da nossa fé e para que nos firmemos no caminho de Deus e em Seus mandamentos. A Eucaristia é uma necessidade para nossa pobreza.
A Igreja precisa da Eucaristia, pois é santa e pecadora. Ela é pecadora porque fazemos parte dela. Somos o corpo de  Cristo, e, por causa da nossa pobreza, empobrecemos a Igreja. Por causa do nosso pecado, fazemos a Igreja pecadora.
A Igreja Católica é a imagem do amor  do Pai, pois não põe para fora ninguém que comete pecado. Ao contrário, ela recebe o filho pecador, o filho pródigo, de braços abertos.
Mesmo com os nossos pecados, não deixemos de ser filhos. A Igreja continua sendo mãe e continuamos sendo filhos. Ela não põe ninguém para “fora de casa”, não faz nenhum julgamento e não condena ninguém como réu.
Como a Igreja, nós também precisamos ser cheios de misericórdia: por isso, necessitamos da Eucaristia.
Queremos que todos deixem o pecado. Queremos que aqueles que participam da nossa comunidade, do grupo de oração, do grupo de pastoral, do grupo de casais, do grupo de jovens, queremos que todos eles sejam santos. Não aceitamos que ninguém dê contra testemunho. Mas precisamos ser cheios de misericórdia, pois cada um de nós se encontra em processo de conversão. É preciso confiar em Deus e acreditar no outro. Não podemos excluir ninguém. Deus mesmo respeita e acompanha o processo duro e demorado da conversão de cada um de nós.
Para conseguir vencer os preconceitos e as barreiras que temos em relação aos outros, para ter um coração acolhedor, humilde, para ser como nossa mãe, a Igreja, necessitamos da Eucaristia.
A Eucaristia foi instituída para ser elo de união entre nós. É preciso celebrar na Eucaristia a nossa união:
“Santo Agostinho diz a este respeito: ‘Ó sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da caridade!’ Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a participação comum à mesa do Senhor, tanto mais prementes são as orações ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa de todos os que nele crêem” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1398).
Não podemos celebrar a Eucaristia e alimentar mágoa no coração, porque a Ceia do amor e da unidade. Como o próprio Jesus disse, é preciso que deixemos nossa oferta no altar e voltemos para nos reconciliar com nosso irmão.
Estaríamos nos deformando e dividindo a Igreja de Deus se persistíssemos em celebrar a ceia do Senhor divididos. Precisamos tomar todas as medidas necessárias, para acabar com nossas divisões, desavenças e brigas. Nossos corações precisam estar purificados de toda mágoa, ressentimento e rancor, para que então a ceia do Senhor seja realmente proveitosa para nossa vida presente e para a eternidade.
Jesus nos deixou um grande exemplo: começou a ceia da instituição da Eucaristia lavando os pés dos Seus apóstolos:
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que a sua hora tinha chegado, a hora de passar deste mundo para o Pai, ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo. Durante uma refeição, quando o diabo já incutira no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o pensamento de o entregar, sabendo que o Pai lhe entregou todas as coisas entre as mãos, que ele saiu de Deus e volta para Deus, Jesus se levanta da mesa, depõe o seu manto e toma um pano com o qual se cinge. Depois, derrama água em uma bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com o pano com que se havia cingido. Tendo acabado de lhes lavar os pés, Jesus tomou o seu manto, pôs-se de novo à mesa e lhes disse: ‘Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis, também vós, lavar-vos os pés uns aos outros” (Jo 13, 1-5.12-14).
Esse episódio tem uma ligação muito íntima com a Eucaristia.
Lavar os pés é próprio dos escravos. Somente eles lavavam os pés de outro homem. Nem mesmo um discípulo lavava os pés de seu mestre.
Diante de todas as discussões dos apóstolos sobre quem seria o maior ou o menor, sobre quem teria o primeiro ou o segundo lugar em Seu reino, Jesus, naquela última ceia, começa assumindo a posição de escravo.
Após ter lavado os pés de todos os discípulos, Jesus pede que os apóstolos repitam o mesmo gesto: lavar os pés uns dos outros, assumindo a posição de escravo.
Cada um de nós precisa assumir também essa posição diante do irmão, ser como escravo dele. Isso é básico no cristianismo.
A ligação entre o episódio do lava-pés e a Eucaristia está no fato de que, nela, o Senhor se perde completamente. Jesus já havia posto de lado Sua divindade, vindo a nós e fazendo-Se homem como nós. Feito homem humilhou-Se ainda mais e enfrentou a mais infame das mortes.
Na Eucaristia, é como se Ele descesse mais ainda, e Se eclipsasse totalmente: ali não se mostra Sua divindade, nem mesmo Sua humanidade: Ele se perde totalmente e assume a posição de alimento. Ele se coloca na forma e na aparência de pão e de vinho, se eclipsa totalmente e se faz escravo a nosso serviço.
Tudo isso para aprendermos a nos despir de nós mesmos, nos libertar de todo egoísmo, vaidade e presunção. Para, também nós, nos humilharmos e lavar os pés dos nossos irmãos, assumindo assim nossa posição de escravos de Jesus.
Todos os dias, sobre o altar, Jesus renova o Seu sacrifício por causa da nossa pobreza, porque somos ainda pouco santos e muito pecadores.
Jesus, em cada missa, se apresenta a nós com Suas mãos e pés chagados, e nos diz: “Toquem minhas mãos, toquem os meus pés”; da mesma forma que fez, quando apareceu a Tomé, que não acreditava na Sua ressurreição. Jesus chegou mostrando-lhe Suas chagas e dizendo:
“Aproxima o teu dedo aqui e olha as minhas mãos; aproxima a tua mão e coloca-a no meu lado, deixa de ser incrédulo e torna-se um homem de fé” (Jo 20, 27).
Depois dessas palavras, Tomé caiu de joelhos diante de Jesus. Olhando para as chagas de Suas mãos e do Seu lado, lhe disse: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus acrescentou:
“Porque me viste, creste; bem-aventurados os que não viram e contudo creram” (Jo 20, 29).
Isso se refere a nós. Aí está a nossa bem-aventurança.

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